segunda-feira, 19 de setembro de 2011

As Cidades-Refúgio “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.” (Salmos 91:1)

Eles eram muito amigos. Naquela manhã adentraram a floresta cantando. Trabalhavam todos os dias desde a manhã até ao pôr-do-sol, execeto o shabath. A terra prometida estava recém conquistada e havia ainda muita lenha para cortar. Yoseph diz alegre a Dan: você corta a árvore da direita enquanto eu cortarei a que está a minha esquerda mais a frente, hoje amolei bem o meu machado.
Dan ao som das machadadas fala a Yoseph o quanto foi importante a presença dele e de sua família no Brith Milah (circuncisão) de Daniel, seu filho. No meio da conversa Yoseph sente uma leveza em suas mãos e nelas percebe que há somente o cabo do machado.
A poucos metros sangrando, Dan desfalece com o ferro encravado em sua cabeça. Yoseph percebendo o acidente é tomado de angústia, rasga suas vestes e joga terra ao alto de sua cabeça.
Agora sou culpado de sangue inocente, clama desesperado. Percebendo a morte do amigo, rápido retorna a cidade, mas ao chegar às suas portas lembra que também sua vida está por um fio: o sangue inocente deve ser vingado.
Empoeirado e com a cabeça entre as pernas relembra todos os bons momentos na comunidade e pranteia sem saber o que fazer. Até lembrar-se de uma passagem da Torah que mais parecia uma profecia sobre a sua vida:
“Três cidades separarás, no meio da terra que te dará o SENHOR teu Deus para a possuíres. Aquele que entrar com o seu próximo no bosque, para cortar lenha, e, pondo força na sua mão com o machado para cortar a árvore, o ferro saltar do cabo e ferir o seu próximo e este morrer, aquele se acolherá a uma destas cidades, e viverá.” (Deuteronômio 19:2,5)
Yoseph recobra o ânimo, levanta-se, bate a poeira do seu corpo e corre em direção à Ir Miclat (cidade-refúgio) mais próxima. Ele agora está fugindo do goel hadan (resgatador do sangue) o parente mais próximo da vítima.
O QUE ERAM AS CIDADES-REFÚGIO? 
Deus falou a Moisés que das quarenta e oito cidades que os levitas herdariam no meio das tribos de Israel, seis deveriam ser separadas como “arê Miclat” (cidades-refúgio), três a leste do Jordão e três na terra de Canaã.
A decisão final da escolha destas cidades ficou para Josué:
“Falou mais o SENHOR a Josué, dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: Apartai para vós as cidades de refúgio, de que vos falei pelo ministério de Moisés.” (Josué 20:1-2) 
Estas cidades deveriam ser de porte médio, ter recursos hídricos e contar com muralhas fortificadas. Mais ainda, deveriam espiritualmente estar preparadas para receber indivíduos culpados de homicídio não intencional.
Eram cidades para onde um coração despedaçado como o do personagem Yoseph poderia buscar refúgio e encontrar conforto para a alma e a preservação da própria vida. 
QUAIS ERAM ESSAS CIDADES?
Quarenta e oito cidades, como dissemos, foram destinadas aos levitas, destas, seis foram separadas como cidades-refúgio:
“Todas as cidades dos levitas, no meio da herança dos filhos de Israel, foram quarenta e oito cidades e os seus arrabaldes.” (Josué 21:41)
Foram elas:
“... Quedes na Galiléia, na montanha de Naftali, e a Siquém, na montanha de Efraim, e a Quiriate-Arba (esta é Hebrom), na montanha de Judá. E, além do Jordão, na direção de Jericó para o oriente, designaram a Bezer, no deserto, na campina da tribo de Rúben, e a Ramote, em Gileade da tribo de Gade, e a Golã, em Basã da tribo de Manassés” (Josué 20:7-8)
Que diferença havia entre as seis escolhidas para cidades-refúgio e as outras quarenta e duas?
1. Um homicida poderia habitar numa cidade-refúgio com todas as suas despesas pagas durante todo o tempo em que permanecesse, enquanto que nas demais cidades teriam que se sustentar.
2. Nestas seis cidades o homicida poderia ser protegido mesmo não percebendo que tinha entrado em um refúgio. Nas outras quarenta e duas o homicida somente era protegido se recorresse aos levitas e os colocasse a par de todo o acontecido e só assim estaria livre do Goel hadam (resgatador do sangue). 
O significado dos nomes destas cidades nos faz saber o que elas representavam para os refugiados:
1. Quedes: santo ou santuário. 
2. Siquém: ombro ou costas.
3. Hebrom: comunhão ou associação. 
4. Bezer: fortaleza. 
5. Ramote: exaltação ou elevação, lugar alto. 
6. Golã: quebrantamento, tristeza e reflexão sobre os próprios atos. 
QUEM PODERIA BUSCAR REFÚGIO?
É importante ressaltar que as cidades-refúgio não acolhiam o culpado de homicídio doloso, aquele que teria matado alguém intencionalmente : “Mas, havendo alguém que odeia a seu próximo, e lhe arma ciladas, e se levanta contra ele, e o fere mortalmente, e se acolhe a alguma destas cidades, então os anciãos da sua cidade mandarão buscá-lo; e dali o tirarão, e o entregarão na mão do vingador do sangue, para que morra. (Deuteronômio 19:11,12)
Somente o culpado de homicídio não intencional recebia acolhida:
“E este é o caso tocante ao homicida, que se acolher ali, para que viva; aquele que por engano ferir o seu próximo, a quem não odiava antes.” (Deuteronômio 19:4)
Ao chegar a uma ir miclat (cidade refúgio) o indivíduo relataria todo o episódio do homicídio e mesmo não podendo constatar a verdade dos fatos de imediato, os juízes posteriormente investiagavam cada caso e julgavam se o indivíduo realmente se enquadrava como legítimo refugiado, mas até que se concluisse o levantamento ele poderia continuar na cidade.
QUANTO TEMPO DURAVA O REFÚGIO?
Deus deixou claro a Moisés que somente após a morte do Kohen hagadol (sumo-sacerdote) vigente, o refugiado poderia voltar ao seu lar na sua cidade de orígem:
“E a congregação livrará o homicida da mão do vingador do sangue, e a congregação o fará voltar à cidade do seu refúgio, onde se tinha acolhido; e ali ficará até à morte do sumo sacerdote, a quem ungiram com o santo óleo.” (Números 35:25)

O que tinha a ver a morte do Sumo Sacerdote com o fim da estadia de um refugiado?
A tradição judaica diz que era obrigação do sumo sacerdote interceder incessantemente para que nenhum desastre caísse sobre os filhos de Israel. Se suas orações e incensos subissem com perfeição nenhuma tragédia ocorreria no país, então quando algum assassinato acontecia o sumo sacerdote de forma indireta também era responsabilizado e sua morte serviria como expiação pela culpa. 
Os antigos sábios judeus contavam que a mãe de um sumo sacerdote constantemente se preocupava pela vida do filho temendo que os refugiados subissem orações pedindo a morte do mesmo. Ela sempre estava com outras mulheres fazendo rondas nas cidades-refúgio servindo aos refugiados com alimento e tornando a vida deles o mais confortável possível para que em se sentindo bem os refugiados não orassem pela morte do sumo sacerdote.
Lembro aqui que se o refugiado saísse por conta própria da cidade-refúgio em que estava, responderia pela própria vida e estaria ao alcance do resgatador do sangue que era o parente mais próximo da vítima e a qualquer momento poderia ser morto.
UMA GRANDE LIÇÃO 
As cidades-refúgio eram abrigos perfeitos para aquele que mesmo por acidente sofria as mazelas psicológicas de ter assassinado alguém.
Hoje vemos as penitenciárias como verdadeiras formadoras de bandidos e não como casas que reabilitam e transformam os indivíduos. Podemos culpar a sociadade, as autoridades ou os próprios deliquentes por isso, mas o consenso é que o sistema deve ser totalmente revisto.
A Bíblia dá a deixa para esta revisão.
Porque Deus ordenaria que assassinos buscassem refúgio em cidades que eram habitadas por sacerdotes e levitas? Porque eles estariam cercados por um ambiente de muita santidade e estudos constantes da Torah e isso era o melhor remédio para suas almas cansadas e abatidas.
Assim, nem preciso espiritualizar, porque tudo o que escrevi até aqui em si já é espiritual, trata da alma, mas, quero ir além e dizer que “acidentalmente” podemos assassinar nosso próprio ser, nossa comunhão com Deus e a santidade que ela nos transmite. Acidentalmente porque por ignorância não sabemos o tamanho do dano que estamos trazendo a nós mesmos.
Quando nos abatemos por saber que sufocamos nossa santidade, é então que buscamos refúgio. Onde encontraremos?
Há uma profecia sobre Jesus, nosso Messias, que sempre me dá a direção de uma cidade-refúgio:
“E será aquele homem como um esconderijo contra o vento, e um refúgio contra a tempestade, como ribeiros de águas em lugares secos, e como a sombra de uma grande rocha em terra sedenta.” (Isaías 32:2)
Um refúgio é um lugar onde podemos nos ocultar e mudar de vida. Onde podemos esquecer o passado de dores e aprender sobre como ser santo e ter a mente completamente sarada.
JESUS é a nossa cidade-refúgio:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. (Mateus 11:28-29)
Ele nos convida:
Venha em mim se refugiar porque EU SOU TUDO PARA VOCÊ!
Eu Sou o Goel hadam (resgatador do sangue), Sou o parente mais chegado, sou o remidor, ninguém vai matar você! Já derramei meu próprio sangue e tomei o teu lugar.
Eu sou a tua Ir miclat (cidade-refúgio), adentre e aprenda de minha santidade.
PERMANEÇAMOS EM JESUS, NOSSO REFÚGIO 
O Talmud, livro de interpretação judaica conta que uma astuta raposa fez uma maravilhosa proposta ao peixe: "Venha para a terra, e ficará a salvo da rede do pescador!" O precavido peixe respondeu: "Vivendo na água, existe uma possibilidade de que eu possa viver, evitando a rede do pescador. Entretanto, na terra certamente morrerei." 
O nosso adversário, astuto que sempre é, planeja que saiamos do nosso refúgio sempre apontando uma falsa vantagem. Fique atento.
A tradição diz que era obrigação dos levitas e sacerdotes colocar postes pelas estradas de Israel indicando em que direção ficava a cidade-refúgio mais próxima para que o que buscasse refúgio não se perdesse e fosse alcançado pelo goel hadam.
Quero deixar na estrada deste texto um poste e uma indicação para a sua vida: 
“Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; PERMANECEI no meu amor.” ( João 15:9) 
 Portal fiel (Pr. Osiel Pontes)